É uma mistura de diversas danças, ritos,
lutas, instrumentos musicais vindos de diferentes etnias e de várias
partes da África. Essa mistura ocorreu no Brasil, na época da
escravidão: a Capoeira é Brasileira, filha de mãe Africana.
A história da Capoeira confunde-se com a
própria História do Brasil, pois é nela que vamos encontrar as
primeiras manifestações. A Capoeira surgiu dei negro cativo, buscando
sua identificação cultural frente ao sistema da escravidão em um
ambiente adverso à sua aceitação junto à sociedade dominante. Há
sessenta anos a Capoeira ainda era considerada ilegal, reprimida pela
polícia. Essa situação gerou um ambiente propício ao desenvolvimento de
sua versatilidade.
Ela é uma arte que foi criada no Brasil
pelos escravos, como defesa contra a opressão. Porém, no decorrer da
história, nossa arte ganhou as praças, o ritmo passou a fazer parte das
festas de largo, podendo então ser considerada como manifestação da
cultura popular.
A Capoeira é brincadeira, é um jeito de
lutar jogando, rindo, dissimulando. Tem evoluído nos últimos cinqüenta
anos, saiu das sendas da marginal idade e passou a ser praticada em
academias, clubes e sua presença, obrigatória em espetáculos diversos;
cruzou os oceanos, e já há algum tempo impressiona e encanta pessoas em
todo o mundo, sendo praticada em diversos países tais como Estados
Unidos, França, Alemanha, Finlândia, Suíça, Inglaterra, etc.
Tratando-se de uma cultura popular, a
transmissão de conhecimento de geração em geração vem ocorrendo de
forma verbal e através da própria realização da arte. Sua expressão
popular faz parte do vasto e rico legado da cultura brasileira e contém
elementos de educação, arte, luta, esporte, terapia, assim como dança,
lazer, folclore, história, ginástica, etc.
A arte na Capoeira se faz presente
através da música, do ritmo, do canto, da expressão corporal, da
criatividade de movimentos e da presença cênica. A luta representa sua
origem e sobrevivência através dos tempos na sua forma mais natural,
como um instrumento de defesa pessoal genuinamente brasileira, e uma
estratégia de resistência ao aniquilamento de uma cultura. Como
modalidade esportiva, ela possui elementos que se identificam
culturalmente com seus praticantes, despertando o interesse da
comunidade em geral. A sua prática, como forma de lazer e recreação,
representa eventos conhecidos na comunidade como “rodas de capoeira”,
sendo evidente os seus efeitos terapêuticos em termos educacionais,
ocupacionais e de reabilitação.
Atualmente não seria seguro
conceituar-nos que capoeira angola é “isto” ou capoeira regional
“aquilo”. Tanto a regional quanto a angola são capoeira, e por isso são
luta, jogo e várias outras coisas também. A capoeira é uma só, mas
dentro dessa unidade as diferenças de estilo existem e é difícil definir
a sutil diferenças em palavras.
Dizer que a regional é mais atlética e
objetiva e que a angola é mais manhosa e tem mais fundamento é
simplificar a tal ponto que acaba por ter uma idéia falsa da coisa. Mas
há dados importantes a saber e que devido aos fatos e registros
históricos podemos afirmar com certeza.
Uns dos maiores expoentes da capoeira
angola foi Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha. Nasceu a 5 de
abril de 1889 em Salvador, Bahia. Pardo baixo, testa larga, carapinha
branca, era filho do espanhol José Señor Pastinha e da negra Raimunda
dos Santos. Iniciou-se na capoeira aos 10 anos com o Mestre Benedito (
dizem que era um negro forte, natural de Angola). Em 1941, junto com o
Mestre Amorzinho, fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, largo do
pelourinho, 19; local histórico, arrodeado de velhos casarões e igrejas
centenárias da Bahia antiga. Neste local ensinou durante muitos anos
sua arte, em companhia de seus amigos capoeiras, como: Totonho da maré,
Traíra, Bilusca, Daniel Noronha, Samuel querido de Deus, Tibirici da
Folha Grossa, Chico me dá, Gato, Sete mortes, Bigode de Seda, etc…
Vicente Ferreira pastinha faleceu em 14 de abril de 1981, no abrigo Dom
Pedro II, Salvador, Bahia. Morreu velho e desamparado pelas autoridades
governamentais que nunca deram o devido valor ao seu trabalho, apenas o
exploraram. Mestre Pastinha era também um poeta e pintor de quadros.
Alguns fundamentos do saudoso mestre:
“Capoeira, mandinga de escravo em ânsia
de liberdade. Seu princípio não tem método, seu fim e inconcebível ao
mais sábio dos mestres”.
“Capoeira é pra homem, menino e mulher, só não aprende quem não quer”.
“Capoeira é como um navio nas ondas do mar”.
“O segredo da capoeira morre comigo e com
muitos outros mestres… Um costume como outro qualquer, um hábito cortês
que criamos dentro de nós, uma coisa vagabunda…”.
“Aqui pratico a verdadeira capoeira de
Angola e aqui os homens aprendem a ser leais e justos. A lei de Angola,
que herdei dos meus avós, é lei da lealdade”.
Nota: Mestre Pastinha usa o termo “vagabunda” no sentido de definir a capoeira como
uma coisa descomprometida, à vontade, sem objetivos práticos imediatos.
A capoeira é também muitas vezes chamada de “vadiação”, no sentido de
vadiar, preguiçar, brincar.
Guardemos no coração o saudoso Mestres!
Aos 23 dias de Novembro de 1889, inicio
de um novo século no bairro de Engenho Velho, freguesia de Brotas, em
Salvador, BA, nascia Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba. Ganhou
esse apelido logo que nasceu, em virtude de uma aposta que a parteira
fez com sua mãe, dona Maria Martinha do Bonfim. Dona Maria dizia que
daria luz a uma menina. A parteira afirmava que seria macho. Perdeu a
mãe e o Manoel recém nascido ganhou o apelido que o acompanharia pelo
resto de sua vida. Bimba, na Bahia, é um termo popular do órgão sexual
masculino em crianças.
Seu pai, o velho Luiz Cândido Machado, já
era citado nas festas de largo como grande batuqueiro, campeão de
batuque, “a luta braba, com quedas, com a qual o sujeito jogava o outro
no chão”.
Aos 12 anos de idade, Bimba iniciou-se na
capoeira na Estrada das Boiadas, hoje bairro da Liberdade, em Salvador.
Seu Mestre foi o africano Bentinho, capitão da Cia. de navegação
Bahiana. Nessa época a capoeira ainda era bastante perseguida.
Com o passar do tempo, Bimba começou a
sentir que a capoeira angola, que ele praticava e ensinou por um bom
tempo, tinha se modificado, passou a servir de “prato do dia” para
“pseudo-capoeiristas”, que a utilizavam para exibições em praças, para
conseguir alguns trocados e, por possuir um reduzido número de golpes,
deixava muito a desejar em termos de luta. Aproveitou-se então do Batuque e da Angola e criou o que chamou de Capoeira Regional, uma luta Baiana.
Possuidor de grande inteligência, exímio
praticante de capoeira Angola e muito intimo dos golpes de Batuque,
intimidade esta adquirida com seu pai, foi fácil para Bimba, com seu
gênio criativo, “descobrir a Regional”.
Até 1927 a capoeira era praticamente
ilegal. Bimba conseguiu alguns tostões tirados em “vaquinha” para pagar o
delegado e poder ensinar a sua capoeira por apenas uma hora; no fim
desse prazo o delegado aparecia com seus soldados e o pessoal se
mandava, para tudo parecer real para o povo que assistia.
Em 1931, Bimba consegue registrar sua
escola como Centro de Cultura Física Regional na secretaria de educação,
Saúde e Assistência Pública. O processo de registro leva o nº
305/l937/AP/NCL, assinado pelo Dr. Clemente Guimarães, Inspetor Técnico,
e tem o seguinte teor: “Inspetor Técnico do Ensino Secundário
Profissional, tendo em vista o que lhe requereu o Sr. Manoel dos Reis
Machado, diretor do curso de Educação Física, sito à rua Bananal,
Tororó, distrito de Sant’Anna, município da capital, concede-lhe para
seu estabelecimento, o presidente titulo de registro a fim de produzir
devidos”.
Inspetoria do Ensino Secundário Profissional
Bahia, 9 de julho de 1937
Ass: O Inspetor Técnico
Aos 23 de julho de 1953, quando fez uma
apresentação no Palácio, para o então Presidente Getúlio Vargas, ouviu
deste o seguinte: “A capoeira é o único esporte verdadeiramente
nacional”. O Mestre Bimba torna-se assim o primeiro capoeirista
a ser recebido em um Palácio, pelo Presidente, e a exibir-se para os
convidados do Governo.
Bimba faleceu em 05 de fevereiro de 1974, um ano após deixar a Bahia,
no hospital das Clinicas da Universidade
de Goiás, em Goiânia. Foi enterrado no Cemitério Parque de Goiânia,
tendo sido posteriormente transladados para Salvador em 1978 para
repousarem num mausoléu, encimado por um busto do mestre, em praça
pública no bairro de Amaralina.
“Não voltarei mais, aqui nunca fui
lembrado pelos poderes públicos, se não gozar de nada em Goiânia, vou
gozar de seu cemitério”.
Uma das características da capoeira
Regional é a Seqüência de Ensino elaborada pelo Mestre Bimba, seqüência
esta dividida em oito etapas para facilitar o aprendizado. A seqüência é
para o praticante o seu ABC
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